terça-feira, 5 de novembro de 2013

Finados

Demorei para dormir, pensando nele. Se o Luka queria preencher meus pensamentos, ele conseguiu. Até sonhei com esse homem! Meu humor estava péssimo, minha cabeça doendo e meu despertador berrando para eu levantar.

Por incrível que pareça, minha mãe estava fazendo o café. Também não estava muito animada por ter prometido a minha tia que iria hoje no cemitério para ver o túmulo do vô. Quase caiu de costas quando eu disse que também ia. Olhou séria para o meu lado, fazendo aquele ar de mãe que sabe que você está fazendo coisa errada.

"Você tem ideia de com quem está brincando?"

Isso gelou até minha alma. Faz tempo que eu não vejo esse ar de preocupação no rosto da minha mãe.

"Não conheço homem mais sistemático que ele. Então, toma cuidado."

O que quer dizer sistemático? Ela não falou mais nada, mas percebi uma inquietação característica de quando está nervosa. Saímos um pouco depois das 7h. Imaginei que ele estaria de social, mas para o meu espanto, ele estava de calça jeans (escura), sapatênis e camisa pólo branca. Riu ao me cumprimentar, dizendo que eu estava cheirando a protetor solar.

Até minha tia tirou barato da minha cara, mas depois pediu emprestado o que minha mãe tinha na bolsa. Bom, ele estava de óculos escuro, então não tinha ideia para que lado estaria olhando, porém tive a impressão que, às vezes, ele me olhava pelo retrovisor.

Cemitério do Araça


Acho legal esse cemitério ter umas obras de arte, mas não é um local que eu gostaria de "passear". Quando vi que já tinha bastante gente, mesmo naquele horário, me bateu uma vontade de ficar no carro ouvindo música!

O Luka abriu a porta do carro e fez sinal para eu descer. Fiz aquela cara que não queria ir, mas ele mal deu atenção. Disse que não ia me deixar sozinho dentro do carro e que eu tive escolha quando ele convidou, mas agora, que eu tratasse de me mexer.

Na lista de sistemático deve estar mandão, mas o pior é que eu gosto disso...

Minha mãe e minha tia iam na frente conversando e logo atrás, ia ele e eu. Estava meio nervoso com a quantidade de pessoas a nossa volta, mas não podia dar bandeira que aquilo realmente me deixa mal. Cada vez que demonstro alguma coisa dessas perto da minha mãe, ela acaba dando piti comigo, dizendo que é frescura.

Respirei fundo algumas vezes, na tentativa de passar aquela vertigem idiota que me dá, esperando que meu corpo parasse de tremer um pouco. Chego a suar frio nessas ocasiões. Igual criança, queria mesmo era pegar a mão da minha mãe e ficar seguro ali, mas nem tudo é perfeito.

Putz, de repente eu senti a mão dele no meu ombro. Assim como se faz com criança, que você meio que segura pelo ombro, sabe? Quando olhou para mim, perguntando se eu estava bem, percebi uma preocupação verdadeira nele.

Só balancei a cabeça em sinal negativo e ele me puxou mais perto. Deus, agora eu estava tremendo, mas era por outra coisa. A mão dele no meu ombro parecia pesada, quente e desconfortável. Continuamos andando e a mão dele ali. Ninguém pareceu olhar de forma estranha, mas eu estava me sentindo um ET (um duplo ET).

Qualquer coisa idiota estava mesmo na minha cabeça. A mão dele estava no meu ombro por um tempo e isso quer dizer o que mesmo? Nada. Infelizmente, não queria dizer absolutamente nada... Pelo menos não até ele deslizar o polegar no meu pescoço!!!

Cara! Eu arrepiei até o dedão do pé! Meu, não dava pra disfarçar, pois até a pele do meu rosto arrepiou! Meu Deus, meu primo está definitivamente me cantando!! Enquanto eu estava praticamente surtando, tudo a minha volta transcorria na mais perfeita calma.

Ele não ficou fazendo aquilo mais vezes,, na verdade, foi uma única vez. Cheguei a imaginar que eu tivesse sonhado, inventado ou tido uma alucinação (isso existe em um caso como esse?). Eu estava suando frio e até meu cabelo na parte da nuca já estava começando a ficar molhado, quando paramos embaixo de uma árvore que fica próxima ao túmulo do meu avó.

O Luka deu toda assistência que nossas mães precisavam, sem olhar muito para o meu lado. Aquela parte do cemitério ainda estava vazia e isso me deixou mais confortável. Tive bastante tempo para observá-lo, imaginando que finados e aquele local mórbido não eram uma boa combinação para minha mente vagar sobre putaria com meu primo.

Meu feriado não terminou por aqui, mas o restante eu vou deixar para o próximo post.

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